Como aprender idiomas sozinho: um guia prático em português
Índice simplificado
Quanto tempo leva para aprender um idioma
O conceito de fluência é muito vago. O que realmente importa é que suas habilidades viabilizem seu objetivo. Dito isso, tudo vai depender do idioma escolhido e de quanto tempo você dispõe diariamente para praticá-lo.
Muita gente subestima o tempo necessário para aprender uma língua. Para idiomas mais próximos do português, como o espanhol, a maioria das pessoas leva de 8 meses a 2 anos para chegar a um nível conversacional. Mas se você estudasse 4 horas por dia, esse tempo poderia reduzir potencialmente para 2 meses.
A tabela abaixo apresenta uma estimativa do tempo médio necessário para as línguas mais comuns a partir do português, considerando-se 3 a 5 horas semanais de estudo ou prática intencional.
Idiomas | Nível B1 (conversacional) | Nível C1 (fluente) |
---|---|---|
🇪🇸 Espanhol, 🇮🇹 Italiano | 1 ano e 4 meses (+- 8 meses) | 3 anos e 2 meses (+- 18 meses) |
🇬🇧 Inglês, 🇫🇷 Francês | 1 ano e 7 meses (+- 9 meses) | 3 anos e 9 meses (+- 21 meses) |
🇩🇪 Alemão | 2 anos e 2 meses (+- 12 meses) | 5 anos (+- 28 meses) |
🇷🇺 Russo | 3 anos (+- 17 meses) | 6 anos e 10 meses (+- 3 anos) |
🇨🇳 Chinês, 🇰🇷 Coreano, 🇸🇦 Árabe | 6 anos (+- 3 anos) | 13 anos (+- 6 anos) |
🇯🇵 Japonês | 7 anos (+-3 anos) | 15 anos (+- 8 anos) |
Essa tabela é apenas uma referência e é possível levar mais ou menos tempo do que isso para chegar a um determinado nível (ou mesmo não chegar nunca).
Na média, um estudante de inglês dedicado pode alcançar a fluência (nível C1) em 2 anos, enquanto um estudante menos consistente pode levar mais de 2 anos para chegar a um nível meramente conversacional (nível B1). Já um estudante de japonês particularmente determinado pode chegar a um nível avançado com cerca de 7 anos de prática, enquanto um estudante que pratica apenas em sala de aula pode levar 10 anos para sequer chegar ao intermediário.
Quanto mais distante a língua, mais tempo, trabalho e esforço são necessários para progredir. Línguas que utilizam outro sistema de escrita, outras estruturas gramaticais, que possuem declinações, outros fonemas que não existem no português e um vocabulário de origem distante serão de aprendizado muito mais complexo do que um idioma que utiliza o mesmo alfabeto, com muito vocabulário derivado da mesma origem (latim), que possui gramática similar e sem muitas declinações. Um idioma de uma cultura mais distante da nossa também deixa o aprendizado mais complicado, com diversas expressões idiomáticas, gírias e provérbios que não farão sentido imediato para um falante nativo de português.
Veja também a tabela detalhada com outros níveis e idiomas
Níveis de proficiência
Para traçar um objetivo, é importante entender os níveis do Quadro Comum Europeu de Referência (CEFR - consulte a tabela).
A0 é quem ainda não começou a estudar, ou quem ainda não completou o nível A1.
Os níveis A1 e A2 correspondem aos níveis "iniciantes". Estudantes no nível A2 conseguem comunicar ideias simples com nativos dispostos, por exemplo com garçons e recepcionistas em uma viagem.
Os níveis B1 e B2 correspondem aos níveis "intermediários". O nível B1 é frequentemente referido como o nível "conversacional"; estudantes nesse nível ainda não conseguem acompanhar conversas corriqueiras ou complexas entre nativos, mas já conseguem falar sobre temas familiares, por exemplo sobre hobbies pessoais ou sobre assuntos de trabalho. Já o nível B2 aumenta significativamente a compreensão de mídia nativa como séries, músicas e filmes.
Os níveis C1 e C2 são os níveis "avançados". Estudantes nesses níveis possuem autonomia para se comunicar sobre os mais diversos assuntos. O nível C1, particularmente, é o nível utilizado internacionalmente para categorizar a quantidade de falantes fluentes em cada país. Esse também é o nível indicado para uso acadêmico, tal como aulas universitárias.
Na vida real, a forma como as pessoas se referem a estudantes "iniciantes" e "intermediários" é confusa. Muitos estudantes A2 são erroneamente tidos como intermediários e B2 como avançados. Salvo um exame de proficiência, a melhor coisa a se fazer é uma auto-avaliação criteriosa utilizando a tabela do CEFR. Lembre-se de que se você está estudando material A2, seu nível provavelmente é A1; se você está estudando material B1, seu nível é A2; se está estudando material B2, você é B1; e assim consecutivamente.
Um falante estrangeiro jamais será nativo, mesmo no nível C2. Se você quer "parecer nativo", isso requer anos de convivência com nativos, muita força de vontade e um planejamento de estudos para prevenir um sotaque forte e a fossilização de hábitos ruins.
Lembre-se também de que você pode ter diferentes níveis de proficiência para cada habilidade. A maioria das pessoas superestima suas próprias habilidades, particularmente as de produção e interação oral.
Estabeleça uma meta
Esse guia presume que você já escolheu uma língua pela qual você tem interesse, motivação e razão para aprender.
A primeira coisa que você deve fazer é estabelecer um objetivo. Estabeleça uma meta que seja concreta, mensurável, plausível e relevante. Por exemplo, "quero me comunicar com meus primos", "quero ler certa obra na língua original", "quero tirar minha cidadania no ano que vem". Não estabeleça prazos absurdos ou metas vagas como "ser fluente" ou "ser poliglota".
Se você está com dificuldade para escolher um idioma, se sente desmotivado ou não consegue formular um objetivo, leia mais sobre metas.
Como progredir
É surpreendentemente razoável atingir o nível intermediário. O maior e mais rápido progresso que você fará será justamente nos níveis iniciantes, onde cada gramática ou vocabulário novo que você aprende será muito comum e te dará a impressão de um avanço absurdo em um curto espaço de tempo. O lado bom é que é possível se tornar conversacional rapidamente e se comunicar com nativos dispostos a falar devagar e a usar vocabulário mais simples.
Após atingir o nível intermediário, no entanto, você vai chegar no infâme "plateau intermediário", onde seu progresso ficará nitidamente mais lento. Comparativamente, cada coisa nova que você aprenderá será muito mais incomum e demorará muito mais tempo para você conseguir se expor a ela a quantidade de vezes necessárias para fixar. Tornar-se "fluente" significa conhecer um oceano de palavras desconhecidas, com suas nuances, duplos sentidos, expressões idiomáticas, referências culturais e com complexidade gramatical. Atingir um nível elevado de compreensão oral e pronúncia também levará muito tempo.
Nem todo mundo escolhe progredir para um nível avançado. A maioria das pessoas param por volta do nível intermediário, seu nível exato dependendo de seus objetivos. Não há nenhum problema nisso. Aprender um idioma requer tempo e dedicação que para muitas pessoas é melhor utilizado em outro lugar, como por exemplo com o trabalho, família ou outros hobbies.
O que você deve aprender
Os idiomas consistem de dois componentes fundamentais, gramática e vocabulário - a forma como a língua funciona e as palavras dela, respectivamente -, que são expressados por meio de quatro habilidades:
Fonética
- Audição - Isso envolve aprender os sons da língua, incluindo as vogais, consoantes e tons.
- Fala - Hablidade que envolve reproduzir os sons você mesmo.
Sistema de escrita
- Leitura - A principal fonte de entrada para a maioria dos estudantes.
- Escrita - É uma habilidade que geralmente está associada à leitura, mas escrever bem é uma habilidade que requer aprender a soletrar e a fazer caligrafia.
Leitura e audição são habilidades de compreensão conhecidas como entrada (ou "input"), frequentemente obtidas por meio de conteúdo. Escrita e fala são habilidades de produção chamadas de saída (ou "output").
Um nativo sempre aprende o uso fonético da língua antes de aprender a ler e escrever, mas estudantes estrangeiros são alfabetizados simultaneamente enquanto aprendem o idioma, sendo que a leitura geralmente é a habilidade mais importante para a aquisição de vocabulário. Em todo caso, para conseguir produzir algo, você primeiro precisa conseguir compreender o que exatamente você está tentando produzir: para conseguir escrever, você precisa saber ler; para conseguir falar, você precisa ser capaz de compreender.
Os idiomas são mais do que a soma de suas partes. Por exemplo, o conhecimento de palavras e de gramática não é suficiente para saber quais palavras vão juntas, nem vai te ajudar a compreender expressões idiomáticas. Além disso, os idiomas são indissociáveis de suas culturas e muitas vezes expressam conceitos que não existem na sua língua.
Ao chegar ao estágio intermediário (ou seja, ao "completar" o nível B1), você terá:
- Conhecimento básico de gramática - as formas simples de verbos e substantivos, uma compreensão razoável da estrutura e lógica da língua.
- Um vocabulário funcional - de aproximadamente 1.000 a 2.000 palavras, o suficiente para conversas básicas.
- O básico das quatro habilidades fundamentais - o suficiente para funcionar em qualquer contexto para o qual você esteja aprendendo.
É impossível compreender o idioma sem ter uma base de gramática. Veja por que gramática é essencial mesmo para quem aprende por imersão.
O Alfabeto Fonético Internacional (IPA) pode te ajudar a entender os sons do idioma, mas seu aprendizado não é essencial. Veja mais sobre a compreensão do sistema fonológico de uma língua.
Tipos de recursos
Há muitos tipos diferentes de recursos, mas os três tipos fundamentais são esses a seguir:
- Um programa de curso estruturado
- Um sistema de memorização
- Conteúdo compreensível (ou entrada)
Um curso estruturado é qualquer tipo de curso que te ensina o essencial da língua desde o princípio, tal como a gramática fundamental e o vocabulário básico, estimulando o desenvolvimento de pelo menos três das quatro habilidades (leitura, escrita e audição) em uma ordem lógica e funcional.
Um sistema de memorização é qualquer sistema que te ajude a aprender vocabulário por meio da exposição repetida a palavras ou frases para que você tente se recordar de seus significados.
Conteúdo compreensível é qualquer tipo de mídia produzida no idioma, como por exemplo livros, sites, filmes, podcasts, games, etc.
Esses três tipos de recursos são essenciais para desenvolver o seu método: a combinação de recursos e exercícios que você vai usar para aprender a língua.
Uma boa maneira de procurar recursos envolve buscar na internet por comunidades de outros estudantes da mesma língua para saber o que eles usam. Infelizmente, nem todo idioma possui recursos de qualidade em português, enquanto outros idiomas possuem uma quantidade tão absurda de recursos que pode ser difícil conseguir peneirar o que presta do que não funciona. Nem sempre o que é pago é melhor do que o gratuito e nem sempre um professor ou autor de renome representam qualidade, mas a depender da sua língua, pode ser necessário desembolsar algum valor para conseguir bons materiais.
O curso estruturado
Um curso estruturado é essencial para te dar a base necessária para aprender o idioma por conta própria.
Muitas pessoas, geralmente aquelas que aprenderam inglês, interpretam erroneamente que você pode aprender um idioma até a fluência apenas conversando com nativos ou assistindo séries, mas esquecem-se de que elas tiveram uma base de inglês na escola e que elas estão rodeadas de inglês o tempo inteiro. Mas não se engane: não tem como você sair do zero sem um programa estruturado que te dê o vocabulário e o entendimento mínimo necessário de gramática para desvendar o idioma. Quanto mais distante do português, mais verdadeira se torna essa afirmação. Você conseguiria aprender árabe do zero com instruções em árabe? Para um estudante que está no verdadeiro "zero", isso continua verdade mesmo para um idioma como o inglês (não tanto para o espanhol, por ser um idioma inteligível para falantes de português).
Há pelo menos seis tipos diferentes de cursos que você pode utilizar.
- Explicações em texto, áudio ou vídeo - sites, podcasts ou séries de vídeos que explicam os fundamentos da língua.
- Livros de curso - são livros que dão explicações, exercícios e conteúdo, muitas vezes incluindo áudio de nativos.
- Cursos online - sites ou aplicativos com sua próprias metodologias.
- Cursos de ouvir-e-repetir - cursos em que você ouve frases e deve repeti-las diversas vezes em voz alta até memorizá-las.
- Aulas em classes - com professores em uma sala de aula presencial ou online.
- Tutores - aulas individuais.
Tipo de curso | Exemplo | Vantagens | Desvantagens |
---|---|---|---|
Explicações em texto, áudio ou vídeo | Youtube (vídeo); Assimil (pago, áudio) |
Muita variedade; geralmente grátis; fácil de usar. | A qualidade pode ser questionável; memorizar o que foi ensinado fica por conta do estudante. |
Livros de curso | Série 15 minutos; Cursos Globo; Método Larousse |
Os cursos geralmente são completos e de boa qualidade. | Às vezes dependem de gramática explicada de forma ineficiente; não são muito interativos. |
Cursos online | Duolingo (grátis); Busuu (freemium); Babbel (pago); Lingvist (pago); Lingodeer (freemium); Mondly (pago); Kultivi (grátis) |
Geralmente de alta qualidade, interativos e podem disponibilizar todos os recursos que o estudante precisa. | Geralmente caros; requerem uma assinatura mensal ou anual. |
Cursos de ouvir-e-repetir | Pimsleur |
Ótimo para viajantes; muito bons para te ajudar a começar a falar, sentir o idioma e aprender várias frases úteis. | Não trabalham muito bem as quatro habilidades. |
Aulas em classes (presenciais ou online) |
Senac (pago) |
Ajudam o estudante a se sentir motivado; professores podem corrigir erros imediatamente. | Alto custo; pode ser uma forma lenta de aprender o idioma se as aulas não forem frequentes. |
Tutores individuais | Italki; Preply; Superprof |
Método muito potente; tutores podem corrigir erros imediatamente. | Fazer múltiplas aulas sai muito caro; geralmente são usados apenas como complemento por esse motivo. |
Essa tabela não representa recomendações, mas apenas exemplos generalizados que abrangem vários idiomas (para ver recomendações específicas para cada idioma, suba ao topo da página).
Um bom curso:
- foca em te ensinar a língua em contextos reais, utilizando conteúdo compreensível;
- possui aulas interativas e conteúdo interessante para sua faixa etária;
- cobre todas as bases: gramática, vocabulário e as quatro habilidades;
- te dá a quantidade de informação adequada ao nível para que você continue aprendendo.
Um curso ruim:
- possui poucos exemplos ou conteúdo entediante;
- utiliza contextos absurdos, não aplicáveis à vida real;
- as aulas podem ser completadas passivamente apenas lendo ou assistindo;
- te força a concluir exercícios ou atividades para que você possa prosseguir;
- ignora gramática ou não dá explicações quando necessário.
Nenhum curso é perfeito, mas as fraquezas do curso podem ser contra-balanceadas com os demais componentes do seu método. É comum para iniciantes utilizar múltiplos cursos complementares, por exemplo, um tutor individual para práticas adicionais de conversação, ou um livro auto-didata além de um curso de ouvir-e-repetir pra complementar o estudo de gramática.
Futuramente: 🇮🇱 🇳🇱 🇷🇴 🇹🇷 🇵🇱 🇬🇷 🇨🇿 🇸🇪 🇩🇰 🇮🇳 🇳🇴
Esta é uma eterna página em construção